Os socialistas, gays e lésbicas – Tony Cliff

De forma simples, mas contundente, Tony Cliff (1917-2000), fundador do Socialist Workers´Party britânico, discute por quê os socialistas devem apoiar as lutas dos gays e a necessidade de unir todos os oprimidos. Este é um texto que foi publicado em número 593 do jornal Socialist Worker, no ano de 1978.

Os socialistas, gays e lésbicas 

Tony Cliff

Em sociedades de classe há opressores e oprimidos em todos os níveis da sociedade. O patrão oprime o empregado, o homem oprime a mulher, o branco oprime o negro, o velho oprime o jovem, o heterossexual oprime o homossexual.

O verdadeiro socialista deve ser capaz de superar todas essas divisões. Um metalúrgico que só consegue se identificar com um outro metalúrgico pode ser um bom sindicalista, mas não é ainda um socialista. Um socialista deve ser capaz de identificar-se com as lutas de todos os grupos oprimidos.

Somos todos filhos e filhas do capitalismo, e por isso tendemos a conceber o futuro – mesmo o futuro socialista – de um modo ordenado e hierarquizado.

Algumas pessoas imaginam que o futuro dirigente da revolução socialista será necessariamente um metalúrgico, provavelmente de uma grande montadora de automóveis. Em seguida, viria um líder dos camponeses pobres e sem terras. E os lugares-tenente da revolução seriam todos ativistas sindicais brancos em seus quarenta anos.

E se houver lugar será permitido aos negros, mulheres, gays e lésbicas tomarem parte – desde que, é claro, fiquem bem quietinhos e não causem problemas!

Muitos socialistas ainda não crêem sequer que gays e lésbicas irão participar da revolução.

Pelo contrário, nós devemos olhar para o futuro imaginando que a principal liderança da revolução será uma mulher, negra, lésbica e jovem!

O sistema governa dividindo-nos. Isso significa que não existe um caminho natural pelo qual um grupo oprimido se identifique com um outro. Os racistas mais radicais nos estados sulistas dos Estados Unidos são os brancos pobres – não os mais ricos.

Do mesmo modo os negros não apóiam automaticamente as lutas das mulheres, e o mesmo ocorre com as mulheres em relação às lutas dos negros. Tampouco gays e lésbicas apóiam automaticamente outros grupos oprimidos.

Os nazistas enviaram milhares de gays aos campos de concentração. No Chile gays chegaram a ser castrados e abandonados nas ruas, sangrando.

Mas não é verdade que, mesmo diante de fatos como esses, os gays se tornem automaticamente anti-fascistas.

Dezenas de milhares de gays apoiaram Hitler. Muitos usaram camisas marrons. Após chegar ao poder Hitler voltou-se contra os gays e massacrou-os na ‘Noite das Longas Facas’.

Como podemos explicar esse apoio gay a Hitler?

Um gay oprimido dentro de uma jaqueta de couro nazista consegue ter pela primeira vez a sensação de poder. Isso facilita o ataque a judeus, mulheres e outros oprimidos.

Para que qualquer grupo oprimido lute é necessário que tenha esperança.

Quando uma pessoa se sente mal, “para baixo”, sente desespero. Procura uma vítima para chutar.

Quando uma pessoa está bem, procura alguém pra dar um tapinha nas costas.

Essa é a razão porque somente pela construção de um movimento socialista é possível unir os trabalhadores aos negros, mulheres, gays e lésbicas oprimidos.

E é também a razão de porque é tão importante para gays e lésbicas organizarem manifestações como a “Parada do Orgulho Gay” e se sentirem capazes de assumirem-se, com orgulho, enquanto gays e – quando e onde é possível – como gays e lésbicas socialistas e revolucionários.

Karl Marx escreveu que o capitalismo unifica as forças de oposição. Mas ele também nos divide. Temos que lutar conscientemente por essa unidade.

Somos um – todos nós, juntos – mas somente quando lutamos juntos.

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